Título: Virgem da Anunciação
Autor: Mestre desconhecido (escola portuguesa)
Datação: Século XVII ??
N° Inventário: MPXII. PINT. 001
Dimensões: A. 147 x L. 60 cm
Técnica e suporte: Óleo sobre madeira
Proveniência: Igreja do Carreço
Juntamente com a pintura do Anjo Gabriel [dele se falará a seguir], integra um conjunto que constituiria um díptico, os volantes de um tríptico ou, eventualmente, um retábulo juntamente com outros temas marianos.
A Virgem, ajoelhada diante do livro de orações, volta-se para o nosso lado direito ao receber a visita do Anjo anunciador. A figura de Maria é, pois, representada com o tronco numa posição frontal, enquanto a cabeça se volta em direção ao mensageiro celeste. O rosto, a três quartos, apresenta-se bem proporcionado, com traços delicados e inclinado para baixo, com as pálpebras semicerradas, fixando o pavimento. Com as mãos postas permanece atenta à mensagem que o Anjo Gabriel lhe dirige.
Ao cimo, do lado direito, vislumbra-se a pomba do Espírito Santo. De asas abertas e erguidas ao alto denuncia o voo que a trouxe junto da Virgem. Pintada em tonalidades brancas olha diretamente para Maria, enquanto se encontra envolvida por uma auréola formada por intensos raios luminosos representados por meio de pinceladas soltas e largas.
Diante da futura «Deípara» deparamos com a representação de dois livros. Um deles encontra-se fechado e disposto horizontalmente, enquanto o outro se mostra aberto, eventualmente apoiado sobre um atril que não se torna visível na pintura. Junto dos livros uma romã e, na extremidade direita a tradicional jarra de flores que, neste caso, sustenta um ramo com seis margaridas.
É possível vislumbrar-se o leito onde sobressaem duas almofadas brancas e o dossel de cortinas de cor carmim muito escuro e cujo alparavaz possui um tecido recortado em semicírculos, debruado com dupla barra dourada e rematando com uma borla.
Como elementos simbólicos mais importantes registamos a presença dos livros que indicam que Maria estava ocupada na leitura das Escrituras Sagradas quando surge o Anjo anunciador. A tradição oriunda dos tempos da Patrística coloca a jovem a meditar sobre a passagem do profeta Isaías na qual se refere que uma virgem conceberá e dará à luz o Emanuel (Is 7,14), evidenciando que, nesse momento, em Maria se cumprem as promessas efetuadas há cerca de sete séculos atrás. Por sua vez a romã, situada junto dos livros, pode simbolizar tanto a fecundidade de Maria que pela sua anuência permite a conceção virginal de Jesus Cristo, como a vida nova outorgada por Cristo, mediante a sua Morte e Ressurreição (na arte copta a romanzeira é símbolo da Ressurreição) e, deste modo, estabelecer uma correspondência entre a Anunciação-Encarnação e a Redenção.
Título: Anjo Gabriel
Autor: Mestre desconhecido (escola portuguesa)
Datação: Século XVII ??
N° Inventário: MPXII. PINT. 002
Dimensões: A. 147 x L. 61 cm
Técnica e suporte: Óleo sobre tela
Proveniência: Igreja do Carreço
O Anjo Gabriel apresenta-se no painel do lado direito, surgindo por detrás de Maria, quando esta se encontrava ocupada na leitura dos textos veterotestamentários. De pé, com a perna esquerda levemente genufletida, vestes e cabelos agitados evidencia o movimento que o animou até chegar junto da jovem de Nazaré, embora as asas, trabalhadas sem grandes detalhes, já se encontrem baixas.
O rosto, figurado a três quartos, revela um Anjo jovem e de delicados traços fisionómicos, muito femininos. O olhar fixa-se diretamente em Maria, a quem dirige a sua mensagem, momento confirmado pelo erguer da mão direita que esboça o gesto oratório. As carnações com que se representam as mãos, os pés e o rosto mostram-se coerentes. A saudação de Gabriel a Maria encontra-se expressa na filactéria que se desenvolve em torno do cetro metálico que o mensageiro divino sustenta na mão esquerda.
O local onde o Anjo Gabriel se encontra corresponde à entrada dos aposentos de Maria, assinalado pela grande abertura, traduzindo, de forma literal, a passagem de São Lucas que refere “Ao entrar em casa dela …” (Lc 1, 28).
Como elementos simbólicos deste painel registamos, principalmente, dois aspetos: o cetro metálico símbolo do poder e da autoridade de que o Anjo Gabriel se encontra revestido para desempenhar a nobre missão de anunciar junto de Maria o momento único da história da Humanidade onde o filho de Deus assume a condição humana. Outro aspeto simbólico que importa referir são as vestes ostentadas pelo Anjo que pela sua dignidade reforçam o carácter nobre da sua embaixada.
Luís Casimiro
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P.S.: Ao escolher estas peças que reportam o anúncio da vinda do Salvador a este mundo, o Museu Pio XII deseja colocar todos os que o visitam, por esta página, atravessando as suas portas, ou pela net, em sintonia com o clima de Natal, esse Natal verdadeiro que significa encontro de Deus com cada um de nós. Que seja um encontro muito feliz, prenúncio de um 2020 cheio das bênçãos do Menino Deus.
Paulo Abreu