Ao longo dos meses de outubro e novembro, o Museu Pio XII recorda o grande Arcebispo de Braga D. Frei Bartolomeu dos Mártires, associando-se à alegria da Igreja Universal e, sobretudo, da bracarense, pela proclamação de santidade daquele ilustre membro da Igreja que no Minho e no mundo espalhou virtude, fé, edificante testemunho e pureza do Evangelho.
Recordemos o seu nascimento a 3 de maio de 1514. Evoquemos a sua entrada no Convento de S. Domingos em Lisboa, com apenas 15 anos de idade. Lembremos o grande filósofo e teólogo em que se tornou, vindo a ser titular da Cátedra de Teologia no Mosteiro da Batalha. Ensinará também em Évora, antes de rumar a Lisboa, exercendo aqui o cargo de Prior no Convento de S. Domingos em Benfica.
Após porfiada recusa à rainha D. Catarina, sob imposição e censuras do seu Provincial, Fr. Luís de Granada, escolha confirmada pelo Papa Paulo IV, ei-lo nomeado para Arcebispo de Braga, decorria o ano da graça de 1559.
Entra em Braga sem pompa, em Braga vive com severa austeridade. Devora-o apenas a salvação das almas, das que lhe estão confiadas, das que a toda a Igreja estão confiadas. Por isso escreve e prega sem cessar, por isso se empenha, como ninguém – até lá longe, em Trento – na reforma da Igreja (universal).
Estas três cruzes datam do século XVI, são processionais, em bronze e têm em comum o remate dos braços em flor de lis.
Certamente que a história de D. Frei Bartolomeu dos Mártires em muitas outras páginas e púlpitos será contada. Aqui, queremos apenas fixar-nos nessas muitas visitas pastorais que realizou e nas pegadas patrimoniais que o Museu Pio II conserva dessa tarefa evangelizadora, suada e porfiada por tão zeloso Prelado.
As visitas pessoais realizadas pelo Arcebispo mereceram estudo e uma publicação de Franquelim Neiva Soares, sob o título: D. Frei Bartolomeu dos Mártires: Visitações Pastorais pessoais na Arquidiocese Primaz de Braga (1559-1582) .
Essas visitações pessoais ascenderam a 95. Passavam por três momentos: visita às igrejas e capelas e respetivos recheios; interrogatório das pessoas; emanação da sentença para correção dos abusos.
Não faltavam também os bons conselhos, as providências, das quais se podem destacar: os curas celebrem em todos os dias de preceito e denunciem quem, sem justa causa, falte à missa três domingos seguidos; sejam os fregueses admoestados à frequência dos sacramentos da confissão e comunhão; antes ou depois da missa, todos os domingos, não falte o ensino da doutrina; atalhem-se os restos de paganismo e idolatria (v.g., os clamores a penedos e montes, ou ofertar alimentos cozidos por serem melhores para a alma do defunto); proíbam-se os enfiamentos ou casamentos clandestinos; corrijam-se as extravagâncias nos funerais, sobretudo as comezainas (alguns chegavam a matar boi ou vaca, gastando nisso toda a terça dos sufrágios, quando não a fazenda do morto…).
Enfim, o Arcebispo quer o povo bem instruído, com boas práticas, em esforço de santidade. E para isso devem contribuir as visitações.
De três em três anos, no início do pontificado, com um pouco mais de espaço em avançando a idade, lá ia o Arcebispo por essa imensa Diocese (mais 1200 paróquias), a visitar e instruir, a animar e pregar, a corrigir e santificar. Não houve lugar onde não fosse, por mais íngreme ou inóspito. O Pastor tem que ir à procura de todas as ovelhas…Nem que elas morem lá para os lados do Barroso.
Denominação: Altar Portátil (com pernas articuladas)
Tipologia: Móvel de função combinada pertencente ao património móvel
Época/Data de Execução: Segunda metade do século XVI (?)
Dimensões Máximas: Altura 104,1 cm x Largura 84,6 cm x Profundidade 60 cm
Materiais: Madeira (castanho), Couro (tipo Moscóvia), Metal (liga de cobre e liga de ferro) e Têxtil (linho e seda)
Autor/ Atribuição: Desconhecida
Proveniência: Arquidiocese de Braga
Proprietário: Museu Pio XII
Em muitas localidades ficou pegada do Arcebispo: uma cruz, por ele mesmo doada, memória avivada de um Deus imolado pelos pecados da humanidade.
Dessas cruzes apresentamos aqui – estão expostas durante estes meses de outubro e novembro no Museu Pio XII – umas três, semelhantes, com alguns pequenos detalhes a diferenciá-las.
Mas a peça mais bonita exposta – aqui e no Museu – é o altar portátil de D. Frei Bartolomeu dos Mártires, o altar que ele usava quando, não se avistando Igreja ou capela, tendo ele que celebrar, montava em qualquer local que lhe parecesse decente e adequado para a celebração da Eucaristia, alimentando-se assim e sempre do sagrado viático, alimento da sua caminhada, força da sua alma, requintada devoção do seu espírito.
Paulo Abreu