Este Calvário é uma peça de raro valor artístico pela perfeição e movimento das figuras, que traduzem bem expressivamente nas fisionomias e nos gestos, o drama da crucifixão e morte de Jesus. O conjunto está dentro de uma maquineta de abóbada de madeira, de costas também de madeira com uma pintura figurando Jerusalém e de três faces envidraçadas, cada uma com seu frontão em arco policromado e vermelho, verde e ouro, assentes em 4 pilastras estriadas e separados por duas pinhas douradas.
Consta de 3 cruzes erguidas, tendo a do centro, mais elevada e com duas escadas encostadas e um véu branco comprido, o corpo inerte de Jesus e as dos lados o corpo dos ladrões.
Jesus apresenta-se com o rosto virado para a direita e para o chão, o olhar projetado para o solo, cabeleira farta, caindo uma ampla madeixa sobre o ombro esquerdo; apresenta bigode; tem os joelhos fletidos e cada pé cravado com seu prego.
Os ladrões apresentam ambos corpete, camisa e calças muito coloridas, revestindo-se assim de um caráter muito popular. A volumetria deles é um pouco exagerada, na proporção com as dimensões de Jesus. Ambos estão presos à cruz, braços e pernas, por cordas.
Dois soldados estão um sobre cada uma das duas escadas que ladeiam Jesus. Usam turbante e vestes de cores vivas, avermelhadas. Parecem estar a dar o trabalho por concluído.
As restantes figuras, pequenas, em barro policromado de 0,09 a 0,15, representam Maria Santíssima e mais 4 mulheres, José de Arimateia e Nicodemos, soldados e Judeus. Têm por palco o calvário com uma caveira.
Interessante este apontamento teológico. A morte – que a caveira simboliza – põe-nos em comunhão com Jesus crucificado. Mas essa crucifixão é-nos benéfica: representa a vitória da vida sobre a morte. Então, se com Cristo morrermos, com Ele viveremos. Jesus venceu todos os inimigos, até o maior deles: a morte. Agora tudo aponta já para o “terceiro dia”.
Estamos perante um trabalho delicioso, barroco, muito expressivo, teatral. As vestes, à boa moda da época, têm grande dinamismo, abundância de folhagem, de voamento, de pregarias; os rostos falam, autenticamente; os gestos, os rostos, as fisionomias são de grande expressividade.
Uma bonita e bem conservada peça, do século XVIII. Escolhida para nos ajudar a sintonizar litúrgicamente com o dia 14 de setembro, dia em que se comemora a Exaltação da Santa Cruz!
Paulo Abreu