Galeria Henrique Medina
Apresentação
O pintor Henrique Medina, fruto da amizade com as mais altas figuras da Arquidiocese, vai legar, em 1982, à Igreja bracarense, um conjunto de 52 telas e 21 desenhos da sua autoria. Dada a natureza e valia do acervo, resolveu-se dar casa própria ao legado, fundando-se o Museu Medina em outra ala do edifício.
Abriu as portas a 21 de Junho de 1984 e tornou-se no único espaço museológico da região minhota, dedicado integralmente às belas artes. Sobrevivendo à grande remodelação de que os espaços museológicos da diocese foram alvo na transição do milénio, o Museu Medina reabriu ao público a 5 de Dezembro de 2002. Beneficiando agora das mais modernas condições expositivas, passou a integrar o percurso museológico do Museu Pio XII, onde se inclui também a Torre Medieval de Santiago.
Localizado no primeiro piso do edifício, o núcleo dedicado a Henrique Medina impressiona, desde logo, pela visão perspetiva das pinturas expostas, autênticos monumentos em tela.
Subdividida em cinco salas, a coleção apresenta trabalhos diversos, desde desenhos a pena e aguada, a lápis e aguarela, a lápis e grafite, a sanguínea e grafite com aguada, a aguarela e, principalmente, a óleo sobre tela.
Além da coleção legada pelo artista em 1982, a galeria tem vindo a ser enriquecida com outras telas, algumas aí colocadas em regime de depósito, outras conseguidas por generosas doações.
Galeria Henrique Medina
O artista
Henrique Medina de Barros nasceu no Porto em 1901 e é considerado um dos mais celebrados retratistas do século XX português.
Desde cedo revelou um talento inato para a pintura. Levado pelas mãos da avó, com 10 anos de idade começou a frequentar a escola de Belas Artes, no Porto. Sete anos mais tarde, em Lisboa, na Sociedade Nacional de Belas Artes, apresentou o retrato da pintora Teodora Andresen, o que lhe valeu a 2ª medalha. Aos 19 anos seguiu para Paris, ingressando na “école des Beaux-Arts”. Permaneceria na capital francesa durante sete anos.
Os convites que consecutivamente foi recebendo levaram-no depois a pintar em Inglaterra, Itália, Brasil, Argentina, Suécia, Dinamarca, Estados Unidos, País de Gales, e Espanha.
A vasta obra que legou integra diversas tipologias, todavia o que lhe granjeou particular distinção foi o retrato. O artista teve oportunidade de retratar figuras destacadas da sociedade nacional, como é o caso de Marcelo Caetano, Oliveira Salazar, D. António Ferreira Gomes, o Nobel da Medicina Egas Moniz, o Cardeal Cerejeira, entre outras figuras relevantes.
Dada a sua fama no meio artístico internacional, foi contratado por eminentes figuras internacionais da esfera da cultura, política ou social. Mussolini, General Justo, Charlie Chaplin, Mary Pickford, Linda Darnel, Papa João Paulo II, os príncipes Doménico Orsini e Giovanni Torlonia fazem parte desse ilustre rol.
O seu êxito deve-se à indiscutível qualidade de execução patenteada nos seus retratos, que exibiam uma fidelidade que poderemos chamar de fotográfica. Segundo os críticos de arte, Henrique Medina fez perdurar no século XX a arte realista.
Expôs diversas vezes no afamado “Salon des Artistes Français”, onde obteve uma menção honrosa, e foi colocado “on the line” na Royal Academy, em Londres.
Em Portugal foi alvo de diversas homenagens e condecorações, entre as quais se salientam o Grande Oficialato da Ordem de São Tiago e Espada (1969) e a Grã-cruz da Ordem do Infante D. Henrique (1984) atribuídas pelo Presidente da República. Com apenas 38 anos recebeu a Medalha de Honra e de Ouro da cidade do Porto (1939).
Morreu em Góios, Esposende, na sua residência, a 30 de Novembro de 1988, vítima de doença súbita.
Galeria Henrique Medina
A obra
A Galeria Henrique Medina concede-nos uma perspetiva alargada sobre o talento e a obra daquele que muitos consideram o maior retratista do século XX.
As obras exibidas abrangem as diferentes temáticas características do mestre Medina. O conjunto legado à Igreja bracarense apresenta predominância de naturezas mortas, ambientes íntimos e familiares e paisagens. Com frequência cruzamo-nos com rostos e panorâmicas do Minho, atestando a forte vinculação à terra onde residiam as suas raízes. Impressiona particularmente a Azenha do Mirante, recolhida diretamente da paisagem em Antas (Esposende).
Porém, a exposição ganha dimensão e estatuto superior a partir dos vários retratos, a especialidade do artista. Poderá surpreender-se com o magnífico retrato do Arcebispo D. Eurico Dias Nogueira, menor não será a admiração perante o retrato do Rei de Itália ou da minhota que suavemente segura uma maçã. Os nus eram também uma das suas temáticas mais absorventes.
Em suma, Medina é um amante da vida e da natureza. E com ele somos levados a gostar do mundo e, sobretudo, da beleza do ser humano, mais ainda quando revestido da doçura, da suavidade e da beleza que se conta no feminino.
As técnicas que o pintor usa são variadas: desenhos a pena e aguada, a lápis e aguarela, a lápis e grafite, a sanguínea e grafite com aguada, a aguarela e, principalmente, a óleo sobre tela.
Retratos
Além das diversas condecorações e homenagens de que foi alvo, muitas delas ainda em vida, Henrique Medina detém um outro fator que o sobreleva entre os protagonistas da pintura contemporânea em Portugal.
O mestre portuense é o mais representado na Galeria do Palácio de Belém, onde estão expostos os retratos de todos os dezoito Presidentes da República Portuguesa. Medina realizou cinco retratos, tornando-se o pintor mais citado, à frente de nomes como Columbano Bordalo Pinheiro, Luís Pinto Coelho ou Júlio Pomar.
Tendo em conta as datas das obras, surge evidente que só o retrato do Presidente Óscar Carmona (1933) foi executado no decurso do respetivo mandato e que talvez tenha sido por decisão deste, ou dos seus conselheiros, que Henrique Medina pintou, postumamente, os retratos de António José de Almeida (1932?) e de Sidónio Pais (1937), enquanto o de Canto e Castro, está datado de 1933, cerca de um ano antes do seu falecimento. O retrato do Almirante Américo Tomás é de 1957 e foi executado um ano antes de ser eleito Presidente da República.